Origens da Quinta
Quinta do Bom Despacho é um nome que pode ser interpretado de várias formas, soando a trabalho árduo e assíduo ou a boas notícias, ou ainda a um parto fácil... qualquer um destes nos agrada! Para além disso, há na verdade uma razão histórica para o nome, que data dos tempos do nosso antepassado Gaspar Dias. Temos uma longa linha de antepassados entre essa época e os dias atuais, que viriam a atingir um elevado estatuto social com os títulos de Viscondes da Praia, e mais tarde de Marqueses da Praia e Monforte. O nosso trisavô foi o segundo e último Marquês da Praia e Monforte, uma vez que os títulos nobres deixaram de ser usados após a implantação da República em 1910.
Mas voltando ao início, Gaspar Dias viveu nesta casa desde o início do Séc. XVII. Nessa época, a Inquisição perseguia diversos grupos sociais, incluindo os que eram suspeitos de terem origem Judaica. Gaspar e a sua família foram repetidamente acusados de terem sangue Judeu e eram considerados "Cristãos-novos", um termo derrogatório naquela época, com uma conotação que tornou difícil a integração da família na sociedade Micaelense. Nessa altura, a melhor forma de se libertar do controle da Inquisição era obter testemunhos que verificassem a "pureza de sangue", o que poderia levar a uma carta Real favorável à família: um despacho de limpeza de sangue. Gaspar Dias não descansou na busca desse documento, prometendo que iria erigir uma capela se o conseguisse, e que lhe chamaria "Eremida do Bom Despacho" - para assinalar a boa notícia.
Após muitos anos de perseguições e dificuldades, Gaspar Dias e a sua família foram finalmente declarados "livres de sangue Judeu", e ele cumpriu a sua promessa, construindo a Eremida do Bom Despacho, e ficando a sua casa conhecida pelo mesmo nome1. Infelizmente, a Igreja já não existe desde meados do Séc. XIX, mas o nome do lugar ficou... e quando a nossa família voltou a ocupar a casa nos anos 80 foi imediatamente adotado como o preferido para descrever a quinta, o lugar e a morada.
...nós adoramos boas notícias - e vocês?
1 “Foi dado cumprimento ao voto feito de mandar erigir, no caso da obtenção da limpeza de sangue, uma ermida invocativa do bom despacho, passando o local onde viviam a ser designado por Bom Despacho” (IN: Maria Ana Marques Guedes, Cristãos-novos nos Açores - o caso de Gaspar Dias, Separata do Boletim do Instituto Histórico da Ilha Terceira, Vol. XLV – 1987, Angra do Heroísmo 1988).